quarta-feira, 5 de abril de 2023

If I only could I’d make a deal with god

Sentei-me à mesa e apanhei as conversas cruzadas. Absorvi-me em pensamentos que não controlei. Porque me apareces, como se fosses uma sombra, e começo a ouvir-te em todos os cantos. Vejo-te nas ruas vazias de Lisboa, como se me perseguisses entre esquinas. Não tu, verdadeiramente; mas os pensamentos de ti e as palavras que deixaste para trás, como um rasto que me recorda quem outrora fomos. Continuei a ouvir as conversas ao longe, mas mantive-me no silêncio. Absorvida nos meus próprios pensamentos. Falava-se de amor à mesa. Um tipo de amor que não precisa de palavras para viver. Que existe, no toque. E eu não consigo evitar pensar que és uma constante na minha vida, e que continuo sem entender o porquê de a realidade me reenviar para ti. Como se me deslocasse para um mundo paralelo. Onde, quem sabe, o destino nos cruzasse outra vez. Já te confessei, vezes sem conta, que não há calor como o teu. Que não há saudade como esta, tão permanente como insistente. Talvez por isso me tenha libertado das questões. Deixei de as colocar, apesar de ainda me tomares de assalto quando eu menos espero. É curioso, tudo isto. Curioso que, depois de me ter afastado dele, não seja dele que sinto falta. Acho que, no fim de contas, me fui enganando ao longo do tempo. Tentei convencer-me de que, ao entreter-me com outro tipo de amor, tu desaparecesses. Sonhei que o teu nome se tornaria numa nuvem, que eu admirava em dias mais cinzentos. Sonhei também que contaria aos meus filhos sobre ti, como se fosses um sonho que eu nunca concretizei. Uma memória de um passado que ambicionei mais do que qualquer outra coisa. Durante este tempo todo, nunca imaginei que procurar alguém igual a ti fosse tão difícil. Não que fosses a última flor do deserto; porque decerto haverá melhores pessoas do que tu e eu juntas. Mas a realidade nunca é assim linear. Não importa o que és, se nenhum defeito teu (nem mesmo o mais sombrio) me assusta. Não importa, também, como és, se não há nada que se equipare ao som acolhedor da tua voz. Apercebo-me disto, já depois de ter perdido a conversa. Sei que o meu olhar está vazio e que as vozes à minha volta me puxam para uma realidade em que não estás. Está tudo bem. Porque, no fim do dia, estás onde sentires que pertences. Mas não posso negar que o mundo, por vezes, se resume a isso: uma realidade onde não estás. Onde está uma cadeira livre para ti, mas vazia. 

Quero mostrar-te as cores todas que vejo
Mostrar o que o mundo estranha e que eu levo por aí
Quero cantar, contar que és mais que desejo
Que eu sou casa sem tecto e que tens morada em mim
Tanto a que eu me proponho por vontade que dê certo
Tu chegaste e virou sonho, eu não esperava
E agora quero-te perto

Sem comentários:

Enviar um comentário

O que te vai na alma?